Elogio ao editorial
Há uns meses, custava-me muito gastar uns, mesmo que míseros, cêntimos com o “Diário de Notícias”. Se calhar não me custava, já que não o comprava muitas vezes. Mas, tinha pena do jornal e das pessoas que gostavam de o ler diariamente (Pedro Mexia, Pedro Lomba, Miguel Esteves Cardoso, Vasco Pulido Valente e Vasco Graça Moura não escrevem todos os dias e, além disso, Luís Delgado não é assim tão bom comediante como se diz). No entanto, com esta remodelação editorial que se sucedeu no jornal, dou comigo («dou comigo»?) a comprá-lo diariamente, sem me envergonhar por andar a esbanjar dinheiro do Estado tão futilmente. Tudo por causa de Miguel Coutinho e dos seus editoriais. De facto, são editoriais que valem a pena ser lidos e que, nostalgia das nostalgias, trazem saudade dos antigos editoriais de José Manuel Fernandes no “Público”. Porém, nem sempre Miguel Coutinho escreve e, a angústia, nos tais dias em que o homem não escreve, torna-se quase insuportável.
Já agora, para os leitores mais desatentos, fica aqui um cheirinho do que se poderá encontrar nas linhas de Miguel Coutinho : “A política portuguesa , de tão previsível, escorre tédio. Falha de ideias, vai perdendo o sentido do real – sem linhas orientadoras para o País, as máquinas entretêm-se com a criação de momentos únicos de nonsense. Discutir se Manuela Ferreira Leite é ou não é mandatária de Santana Lopes ou descobrir qual o lugar de Paulo Pedroso nas listas de José Sócrates é um exercício supérfluo. É nisto que andamos: partidos reféns de um tráfico político em que nomes, só os nomes, escondem a vacuidade do conteúdo. “
[Paulo Ferreira]
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