A metamorfose do BE?
Francisco Louçã, há cerca de uma semana, num debate com Paulo Portas, optou (instintivamente, claro, o que não abona a seu favor) pelo pior argumento que se pode escolher, para «atacar» a compreensível, pois tradicionalmente «conservadora», posição do líder do Partido Popular. Segundo Louçã, Portas não tinha o direito de «falar de vida» (o «direito a vida», como os «populares» se referem ao assunto) pois «nunca gerou vida». Pior, rematou o seu argumento (o seu malabarismo), com uma seriedade digna de um protestante da linha mais «perigosa», extremista: segundo o cabeçilha dos trotsquistas portugueses, que, confirma, «tem uma filha», Paulo Portas não teria legitimidade para debater o assunto pois (i quote) «não conheceu o sorriso de uma criança».
João Teixeira Lopes, para além de alguma da irritante brigada de humoristas do BE, que incentiva joguinhos nas ruas de Lisboa a um mês das eleições mais atribuladas (e menos decisivas) desde os primeiros tempos de Guterres, aproveitou para dar um ar da sua graça em declarações para a imprensa. Segundo Teixeira Lopes, «Portas não leva o conservadorismo às últimas consequências», ou seja, Portas não vive segundo os conceitos-modelo que defende (defende?), mas sim num lema «faz o que eu digo, não faças o que eu faço».
Para além do encadeamento mais imbecil de «argumentos» que se vira, ou ouvira, desde que começou o ano, Louçã deu-nos a oportunidade de reflectir sobre o tão reputado «dinamismo» do Bloco de Esquerda. A pretensa legitimidade moral e ética que o Bloco de Esquerda diz ter continua lá, não se foi. As afirmações de Louçã não contradizem essa pretensão, mas sim vêm reafirmá-la sob a forma de um populismo desmesurado e nojento (penso que talvez tenha saído, irreversivelmente, da medicinal cápsula política do populismo eleitoral).
Quanto às (muito piores que o «deslize» de Louçã) detestáveis declarações do «Qualquer Coisa» Lopes, a sua arrogância de esquerdista votado ao cientismo totalizante, faz jus à sua posição saliente no seio do Bloco de Esquerda. O «mais perigoso» daquele conjunto mostrou-se digno de um teorizador estatal da pior espécie, lembrando os piores sintomas do downfall do salazarismo ou, sem exagero, os estrategas de Hitler que obrigavam os oficiais das SS a contrair matrimónio para dar o exemplo.
Não, a pretensa «moral do BE» não está em baixo, nem desapareceu. Pelo contrário, rebentou, definitivamente, com as amarras que a sustinham por razões eleitoralistas, e está aí em toda a força. O «à vontade» que demonstram, ao fomentar jogos de bowling na Baixa lisboeta e outras ridicularidades, é típico de quem acha que já pode, e já tem estatuto para, fazer tudo. Mas o seu «passo a passo» na conjuntura política em Portugal continua simples, com algumas variações. Certo núcleo da actual direcção do Bloco não deixou menos seguidores ou mais inimigos graças ao recente espectáculo que nos proporcionou. Mas deixou uma mensagem importante: se chegam ao Governo, cuidem-se portugueses...
[João Silva]
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