sexta-feira, abril 29, 2005

Muralhas

No fim daquele dia, venceste-me. Voaste, impiedosa, deste quarto, pelo retrato que dá para a rua. Nas vazias e intermináveis paredes que me asilam, emoldurados em pretensa candura, fecham-se os teus lábios contidos, já orgulhosos das histórias que então me escondias. Na mesa, o pedaço de vidro baço, contendo as cinzas do tempo gasto esvaziando obsessões e pensando em respostas certas. Mas no dia em que te completaste, venceste-me. Sumiste na objectiva. Deste quarto levaste vida.

[João Silva]