A ambiguidade do «não» francês
Sobre a possível, e perigosamente confusa, diversidade de razões e argumentos para votar contra ou a favor do tratado de Constituição para a UE, escreve Jonah Goldberg na National Review Online:
«One of the fascinating factors in the French referendum was that anti-Americanism of one kind or another motivated both yes and no voters. The yes voters were interested in, among other things, creating the sort of European superstate the French have envisioned for decades. The no voters were concerned that the EU Constitution would usher in American-style “ultraliberalism” (one thing the Europeans do have going for them is they still use the word “liberal” correctly).
The French have absurdly lavish social-welfare policies, particularly for the middle class and for workers. Opening France to more economic competition threatens their cushy perks. (I knew a French businessman who wanted to fire a lousy truck driver who kept missing work. He had to make an appointment with government bureaucrats six weeks in advance in order to get permission to fire his own employee.)»
A França, pelo facto de ser a principal impulsionadora (e «líder moral») da Constituição Europeia, tem mesmo de ser a principal nação «ratificadora» dessa Constituição, substituindo os anteriores tratados. Mas compare-se a «visão dos franceses (de uma sua maioria)» com a «visão dos ingleses»:
«This points to one of the great ironies of globalization: It imposes a regression to the global mean. Various commentators have marveled at the fact that Britain and France think the EU Constitution means opposite things. The Brits don’t like it because they fear it will bring Euro-socialism, while the French fear it will move France in the laissez-faire direction. Many have attributed this to voter confusion over what the constitution actually says. Why else would the Brits think it’s a socialist tract while the French are convinced it’s a plan for economic liberalization?
(...) Add the fact that the document itself is impenetrable and you can hardly blame voters for erring on the side of caution. You don’t roll the dice when you might potentially be voting away your sovereignty and lifestyle. For the record, though, the constitution is no free-market tract — if Adam Smith were alive, he’d spontaneously burst into flames if he read it.»
A verdade é que se deve pedir explicações, acerca da rejeição da Constituição Europeia em França e na Holanda (e, creio, seguir-se-ão muitos mais se se continuar a efectuar referendos), directamente aos que defendem e votam pelo «não», pois o risco de dar de caras com mais propaganda pró-europeísta (e tome-se aqui «europeísta» no sentido institucional, da reafirmação do «Fortress Europe», neste caso de Giscard) é enorme, e apenas abre as portas para um regresso ao início do processo. Como já disse anteriormente, e como Jonah Goldberg aqui afirma, nem todas as motivações são boas para votar contra, mas, acrescento, o facto de haver diversas motivações para uma mesma vontade/decisão, é uma das vantagens e pilares da democracia, e retirá-lo seria um precedente perigoso para a consolidação da demagogia do «progresso europeu».
[João Silva]
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