A aventura dos livros
A Feira do Livro é uma aventura, não apenas por causa dos livros baratos, mas também por causa do intenso cheiro a Verão que por lá abunda. Não é que coisas como o Verão, o calor ou contacto humano me fascinem, mas a verdade é que é no Verão que o sexo fraco sai à rua. Na Feira do Livro, o cheiro a Verão é tão intenso que até o cidadão mais pacato se vê obrigado a fazer peregrinações diárias ao Parque Eduardo VII. Face ao cheiro, os livros nada interessam. A mente humana deforma-se de maneira assustadora. Chega a atingir a impertinência excessiva, a obsessão. Os livros servem apenas como pretexto para um contacto furtivo com o sexo feminino. Claro que os livros interessam, mas, para quem frequenta boas livrarias, a Feira do Livro nada representa em matéria cultural. Além disso, a palavra «livro» não rima com «multidão». Por outro lado, a palavra «feira» rima com «mulher» (bonita) e, especialmente, com «ninfeta» (bonita).
A tentação de cometer um crime moral na Feira do Livro é tão grande, que chego dar razão ao socialista utópico, Charles Fourier, quando afirma: «cornudo presumível é aquele que, muito tempo antes do casamento, teme a sorte comum, tortura o espírito para lhe escapar e sofre o mal antes de realmente passar por ele.» Ora, julgo que qualquer homem que se apanhe nos meandros da Feira do Livro só pode sentir-se um «corno presumível» ou imaginar que pode estar a fazer alguém sentir-se «corno presumível», o que não é bem a mesma coisa.
[Paulo Ferreira]
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