Qualidade política
Maria de Belém Roseira, conhecida deputada do Partido Socialista, partilha com os leitores da revista Sábado alguns dos seus vícios. Dentro de um número significativo de vícios, destacam-se dois ou três, que, pela clareza e pela simplicidade de resposta, fazem com que o público em geral consiga perceber um pouco dessa classe elitista que é a classe política portuguesa. Assim, um dos primeiros vícios de Maria de Belém Roseira é «ler». Citando a deputada, «Passo o ano a ler relatórios e documentos de estudo. Só durante as férias é que consigo ler como mais gosto: para me divertir. Também releio. Agora, pela segunda vez, estou a ler o Código da Vinci.» Um outro vício de Maria de Belém Roseira é o de «navegar na Internet». «Tenho tendência para visitar sítios técnicos, mas também procuro outras coisas. Não tenho é tempo para blogues: são só para quem tem uma vida organizada. Ou para quem tem pouco que fazer.», afirma a consagrada deputada. Outro vício a que se pode dar destaque é ao de «andar de carro sem destino». Afirma a deputada, entre outras coisas, que sair sem destino é algo que lhe dá imenso prazer.
Ora, destes três vícios poderiam retirar-se várias conclusões. Porém, não é meu objectivo desempenhar o papel de censor cultural, até porque ainda me faltam muitos anos para ter legitimidade para falar sobre o que quer que seja. No entanto, não posso deixar de afirmar que Maria de Belém Roseira, através de uma pequena secção de revista, consegue ser o exemplo máximo de toda a cultura política nacional. Com efeito, Maria de Belém, ao afirmar que anda a reler Dan Brown, ao confessar que não tem paciência para blogues (não gosta de perder tempo a ler coisas menores, calculo eu) e ao afirmar que gosta de andar de carro sem destino, consegue desmascarar toda uma teia política. Ou seja, Maria de Belém, à semelhança dos seus colegas políticos, não tem tempo para ler livros decentes, nem tem tempo a perder com futilidades, apesar de ter tempo para andar de carro sem destino. Acontece que Maria de Belém, tal como a maioria dos seus colegas de profissão, também não tem tempo para fazer política, nem sequer tem tempo para pensar que nunca fez nada de decente pelo seu país. Talvez Maria de Belém ganhasse um pouco se despendesse algumas horas do seu precioso tempo a ler futilidades e ninharias que fizessem com que ela própria e os seus colegas de profissão percebessem aquilo que representam no mundo político, em termos de decência, de profissionalismo e de qualidade.
[Paulo Ferreira]
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