Retratos de sucesso
No centro da cidade, as multidões apertavam-se. Ao que parece, os mais velhos vestiram-se de negro para pintarem os mais novos. Uma espécie de luto pela inteligência. Apinhavam e entupiam as ruas da cidade. A razão parecia-lhes mais que apropriada.
Um dos mais destacados líderes meneava a cabeça de olhos fechados, enquanto coçava a barriga por baixo de uma t-shirt que clamava bem à vista: I'll die for you, e outros epitáfios «rock-da-candonga» não muito longe do género.
Um outro montava-se em cima de um futuro aprendiz de idiota e exortava ao esforço cavalar do rapaz.
Três raparigas seguravam, numa tentativa de erotismo apenas comparada ao Mercado do Bolhão, os traseiros umas das outras.
À parte, um rapaz compunha, com ajuda de dois tenores, uma canção académica, prometendo novas aventuras.
Num pequeno espaço de tempo, ergueram todos a imagem de marca. A garrafinha de cerveja parecia querer subir aos céus num brinde vadio. Ao mesmo tempo, o rapaz de gatas olhava para o ar em súplica, enquanto alguém lhe atirava cerveja para a cara. As três raparigas entravam em êxtase e já não sabiam o que segurar, enquanto trovejavam cânticos. Já de lado, o compositor finalizava a música, dirigindo-se a duas mães que passavam: «Engoles?». Portanto, enquanto atravessava o centro da cidade, tive a breve impressão de que o ano lectivo já começou.
[João Silva]
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