Vidas no Café VIII
Passar uma vida num café será muito tempo, até porque a vida é demasiadamente comprida e aborrecida para que possa ser gasta num café, a pensar ou a contemplar a beleza existente neste planeta. No entanto, não raras são as vezes em que dou comigo cheio de vontade de dar um empurrão no quotidiano só para ficar sentado em frente a um cinzeiro acolhedor, que me possa dizer que as obrigações não existem. Também não raras são as vezes em que chego mesmo a passar uma pequena rasteira em tudo o que seja capaz de me fazer levantar de uma cadeira confortável, como são normalmente as cadeiras de café que frequento. Por outro lado, isto de ficar horas, dias, semanas, meses e anos a olhar para a vida sem nada fazer pode tornar-se cansativo. E chato. O melhor será, então, uma pessoa deixar-se levar pelo momento exacto em que se encontra sentada no banquinho a beber o seu café ou a fumar o seu cigarro (não confundir com carpe diem ) e esquecer as obrigações e os problemas que se seguirão depois. Afinal de contas, viver a vida como se fosse efémera e vazia de problemas não tem piada nenhuma. As infames secretárias de escritório, que bebem o seu café como se estivessem num jogo de sedução em que o cruzar e o descruzar das pernas pode significar morrer ou viver, que o digam.
[Paulo Ferreira]
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