Na estante
José Rodrigues Miguéis
Assim de repente, lembro-me de alguns nomes de escritores portugueses que, com o passar dos anos, vão ficando cada vez mais esquecidos. Destaco, particularmente, os nomes de José Rodrigues Miguéis, de Fernando Namora e de Vergílio Ferreira, que, para meu grande júbilo, figuram todos, uns mais outros menos, entre as modestas estantes da minha casa. Com efeito, Portugal estima pouco os seus escritores, principalmente os seus grandes escritores, como é o caso dos nomes atrás referidos. Tanto José Rodrigues Miguéis, como Fernando Namora ou, até, o próprio Vergílio Ferreira, parecem ser daqueles casos, mais frequentes do que seria desejável, de escritores condenados a serem vendidos em feiras do livro. Bem sei que, por exemplo, Vergílio Ferreira costuma ter os seus livros espalhados um pouco por tudo quanto é livraria, mas, o certo é que, se se fizessem algumas contas práticas, verificar-se-ia que não existe correspondência entre o número de compradores da sua obra e o número de leitores dessa mesma obra. Calculo que fique sempre bem a um qualquer magnata do ramo imobiliário compor as suas prateleiras domésticas com livros de um escritor que dá pelo nome de Vergílio Ferreira (até porque este nome publicou muitos livros, o que permite que o comprador avulso encha muito espaço sem que tenha que conhecer muitos nomes de escritores). Por outro lado, tanto os livros de Rodrigues Miguéis como os de Fernando Namora vêem-se condenados a não serem vendidos e , por conseguinte, a serem recambiados para as luxuosas casas de comércio geridas pelos famosos alfarrabistas.
Com isto, não quero afirmar que ser alfarrábio não seja um luxo. Pelo contrário, julgo até que qualquer escritor que se preze deve sonhar com o «almejado» alfarrábio. Mas, e deixando-me de ironias, é triste que o esquecimento se abata sobre escritores tão bons como Fernando Namora, Rodrigues Miguéis ou Vergílio Ferreira.
[Paulo Ferreira]
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