As batalhas de Bonaparte
O Tiago é, mais que um simpatizante de Napoleão, um seu admirador. Do general e do imperador. É aí que reside uma diferença essencial na personalidade e, consequentemente, na vida de Napoleão Bonaparte: este era um general brilhante, quase inigualável (sendo, talvez, apenas possível equipará-lo a anteriores estrategas militares do tempo de Alexandre), mas um político, um «diplomata» falhado, um impaciente crónico. É, apenas, o general Bonaparte que eu admiro.
Faz-se, no post já referido, uma alusão às 50 batalhas ganhas em 60 por Bonaparte em oposição às «5» de Wellington (número impossível). Mas o objectivo está bem exposto. No entanto, não se pode encarar os factos como uma grande vantagem, um grande triunfo «estatístico» da carreira e da história do general francês. Pois o ponto recai, se assim se pode dizer, na razão de ser das tais batalhas. Wellington não será mau líder por ter travado poucas batalhas (comparativamente a Bonaparte), mas sim um líder inteligente, alguém que sempre soube «escolher» as batalhas. As batalhas que podia ganhar, mas também as batalhas que valiam a pena ganhar e, mais importante, travar. Não quero, com isto, parecer, um grande admirador do inglês. Mas sim realçar a diferença entre os dois.
Bonaparte ganhou tantas batalhas, pois foi ele que as escolheu travar, liderar e para insistir num qualquer objectivo que, não poucas vezes, levou para a morte dezenas e dezenas de milhar de soldados franceses, apenas para «desbastar» os recursos do inimigo. Napoleão era um óptimo general, mas um político medíocre. Travou batalhas em demasia pois era um megalómano. Era um imperador cesarista (literalmente, pois era um admirador confesso e despudorado dos caprichos do imperador romano César). Se pudesse descrever Bonaparte, general e imperador, em duas palavras, diria que sempre foi: ambicioso e impaciente. Juntas, criaram o líder esfaimado em que, rapidamente, se tornou o jovem e brilhante general de artilharia saído do colégio militar.
Em suma, Bonaparte ganhou muitas batalhas porque também obrigou o próprio exército a travar muitas, para sua glória pessoal. A maioria delas sem nenhum objectivo senão o de alargar a «sua França». Bismarck, décadas depois, percebeu o suicídio que seria partir em aventuras imperiais fora dos recursos germânicos. Percebeu que demorava tempo para alargar e (de preferência) consolidar, de forma mais ou menos pacífica, um império. O exemplo do Império Britânico talvez seja o melhor exemplo, mesmo que não seja exemplarmente perfeito (não os há, felizmente). Bonaparte ganhou 50 batalhas em 60 porque tinha problemas com a pequenez. Em pequeno, achou que a Córsega era pequena demais para ele. Chegado a França, achou o mesmo do país. O general tornou-se imperador, foi o seu erro. Felizmente, falhou. Felizmente para a Europa.
[João Silva]
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