terça-feira, agosto 10, 2004

Poema

Entrei na segunda parte
quando o teu jogo
estava quase a acabar.
Mas eu não era homem
para resolver um jogo,
não era nem tinha arma
secreta, apenas uns gritos
de raiva já afónicos.
De cada vez que havia cama
levantava-me da cama
como se me levantasse
de uma operação.
Umas vezes operava-te
eu, outras vezes operavas-me
tu. Esperávamos uns dias
até caírem os pontos
e lá voltávamos ao teatro
das operações. Foi pior
quando se soltou da tua boca
a palavra amor. Pensaste
que ao entrar eu resolvia
o jogo, mas só fiz figura
de corpo presente, assim não
valia a pena ter-me equipado.

Helder Moura Pereira, A tua cara não me é estranha

[Paulo Rodrigues]