No bar - Reminiscência II
Depois de ficar toda uma noite a observar os automóveis que passavam a milhas de distância, acordo dentro de um copo vazio. Observo os teus passos apressados. Definitivamente, vens ao meu encontro. Sentas-te à minha frente silenciosamente. Acendes um cigarro. Não pretendemos conversar por imaginarmos que o dia foi árduo para ambos. Trocamos olhares com a certeza de que não necessitamos de gastar as palavras com conversas fúteis. As pessoas que nos rodeiam abafam o nosso silêncio. Permanecemos sentados com os gestos mudos de sempre à espera que um de nós se levante energicamente na direcção do infinito. De repente, ergues um braço e, do mesmo modo que chegaste, desapareces por entre as ruas deste pequeno bairro sem deixares rasto do teu cheiro feminino. Tento seguir-te, mas tropeço num dos dipsomaníacos que te lançava olhares desde que chegaras.
[Paulo Ferreira]
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