Brooklyn is everywhere
Não sou um perito em cinema. Não vejo filmes por obrigação. Sou impaciente quando «aguento» horas de um filme horrível (não sendo, no entanto, capaz de sair a meio, como o capitão que se afunda juntamente com o seu vaso de guerra). Tenho, no entanto, uma infância que coincidiu com a era da «chuva» de cinema de Hollywood, a era da sobrepopulação cinematográfica. Os filmes choviam, muitos e maus. Os maiores realizadores já se haviam retirado. No entanto, uma tradição imperou e sobrevivera, imponente e elegantemente violenta, mesmo que permeável à unanimidade burra: a tradição do cinema italo-americano. Dizer que Scorsese é o seu maior expoente será algo romanceado e tendencioso, mas não hesito em pô-lo no topo. Talvez Leone e Coppola igualem a intemporalidade do legado de Martin Scorsese apenas com as sagas A Fistful of Dollars e Once Upon a Time..., do primeiro, e Godfather, do segundo. Quentin Tarantino e Brian De Palma já são, por outro lado, diferentes, mais recentes, e com técnicas mais apuradas. Que é o mesmo que dizer que pertencem a outra «era». Sobretudo, as personagens destes últimos dois realizadores adquirem dimensões caricaturais, menos humanas/desumanas e mais sublimes, seja procurando o bem próprio ou apenas um objectivo ironicamente insignificante, como a sobrevivência, ao contrário da similaritude rancorosa e vingativa das figuras de Scorsese e Coppola, tementes a Deus. Mas em todos eles há um fundo inspirador do ambiente e das personagens. Uma necessidade de sobreviver e uma necessidade de voltar sempre ao local onde tudo começou. O local em que nasceram e cresceram muitos ícones do cinema (e, naturalmente, da realidade) do séc.XX. Inequivocamente, esse ambiente é: Brooklyn.
[João Silva]
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