Sadistic view of mankind
O Homem é mau. Essa é uma convicção que nem todos poderão ter. Ou, se muitos a têm, grande parte ainda tem esperança de descobrir a suprema virtude humana que derrubará todos os pilares da teia de «maldade» que impera nos corações, ou melhor, que impera na sociedade. O Homem é bom? Não sei. Ninguém o saberá realmente, mesmo havendo provas de que não o é. A realidade é que, na confrontação com a vida em sociedade, o Homem procura a maneira mais subtil de conciliar alianças para destruir a oposição à sua própria felicidade. Ao longo dos tempos tem sido assim. A besta (o Homem) dominada por um jugo falível mas, em geral, eficaz: a lei.
No entanto, em Sade, uma nova dimensão se nos apresenta. Não sendo um insuspeito de ideias bizarras, o marquês de Sade posiciona, no entanto, as personagens numa duplicidade social que é tudo menos um elogio à Humanidade. Nessa duplicidade, a personagem (inúmeras vezes homens de «posição» como nobres e bispos) vive uma vida pública de virtude enquanto se submete à mais desmesurada volúpia e sadismo no «mundo de Sade». Nessa realidade subterrânea, assumem-se como criminosos, tarados e fazem corresponder a sexualidade a uma simples e mecânica interligação de corpos. Essa mecanização, ou «objectização», do ser humano, é uma das características mais vincadas de Sade, que, esgueirando-se por entre a miopia reinante do séc. XIX, descobriu isto: o Homem precisa de destruir algo para se sentir, ele próprio, inteiro, e que nem a mais aperfeiçoada lei conseguirá impedi-lo de o fazer. Esse é o grande fardo que a Humanidade terá de carregar até ao seu fim. Sade apenas aceitou esse fardo e fez dele, não castigo, mas clímax.
[João Silva]
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