Desilusão
Uma coisa que me transtorna bastante, é assistir à transformação de um actor ou de um músico em activista político. Por mais frequentes que se tornem os casos de actores ou de músicos conhecidos que se deixam levar pelo obscuro mundo da bacoquice, não me consigo habituar à ideia de que essa gente também tem o direito de pensar e de exprimir as suas opiniões.
Na minha retrógrada mentalidade, mentalidade essa deveras influenciada pelas crónicas de Nelson Rodrigues, o artista não pensa. Limita-se a desempenhar as suas funções, enquanto actor ou músico.
Porém, se, há muitas décadas atrás, o artista apenas estava capacitado para levar o público à comoção, através da representação, ou mesmo através de autênticos espectáculos musicais, nos dias de hoje, poucos são os artistas que não sentem necessidade de influenciar, politicamente, o «público» com as suas insopitáveis opiniões. Opiniões essas que, na maior parte das vezes, são inócuas, vazias de sentido e que, no fundo, acabam por condicionar a adoração que o «público não-massificado» possa ter pelo próprio artista.
[Paulo Ferreira]
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