A direita num estádio de futebol
Depois da derrota de Santana Lopes nas eleições legislativas, a unanimidade intelectual sentiu-se na necessidade de afirmar que a direita portuguesa precisa de se reencontrar. Talvez seja verdade que, depois do desaparecimento de algumas personagens demagógicas, algumas almas desencontradas andem a vaguear pelas ruas. Porém, não é possível afirmar-se que a direita em Portugal está perdida, já que, em Portugal, não existe uma direita compacta, consensual. Assim, nem todos os indivíduos que se consideram de direita têm, obrigatoriamente, de se identificar com coisas como o pessimismo antropológico, com o anti-utopismo, com o estatismo, com o liberalismo, com o nacionalismo ou, até, com o elitismo. Com efeito, é possível que um indivíduo seja de direita apenas por não gostar da convivência humana, assim como é possível que um indivíduo seja de direita por considerar que, através do nacionalismo, conseguirá chegar ao progressismo. Ou seja, o conceito de direita, como ideologia, pode ser visto de diferentes modos. Logo, é absurdo que se reduza o país a dois grupos: os de direita e os de esquerda.
No entanto, nestas coisas das ideologias e dos valores, é sempre importante ter-se consciência de que estamos em Portugal, um país habitado por milhões de pessoas que sabem falar sobre a vida e o mundo, sem nunca terem lido um livro decente. Acreditando nesse quase completo analfabetismo das pessoas, é bem possível afirmar-se que a direita está perdida e que a esquerda está salva. O pior é que, afirmações como esta, não provêm da plebe, nem sequer dos novos-ricos que dominam o mundo do futebol. Pelo contrário, essas afirmações provêm de indivíduos que deveriam saber separar a ideologia política das ligações emotivas e irracionais a clubes de futebol.
[Paulo Ferreira]
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