A política dos «pequenos passos»
Sem tomar atenção ao ambiente de «estado de graça», é importante, no entanto, ser honesto em relação ao governo de José Sócrates. Chegava, há dias, a uma conclusão prognóstica com um caro amigo: o novo Governo de José Sócrates (na minha opinião) poderá não ser tão mau como os indícios, naturalmente de decadente continuidade de «crise», previam, mas concordámos que, no fim do mandato, as grandes reformas, ou grandes mudanças, que se esperam há muito, continuarão por fazer, ou pior, por considerar.
Talvez o bras droit deste governo, e da sua «capacidade de acção», seja este mesmo estado de graça, deduzindo-se, daí, a sua celeridade em operar, logo nos primeiros momentos de «novo governo empossado», sobre a sempre debatida questão dos farmacêuticos, para além de outras menores. No entanto, as suas acções imediatas nestas primeiras semanas não são para ser levadas muito a sério no tempo que restar. Pois o executivo de Sócrates, tal como qualquer governo em Portugal, precisa de pressão para trabalhar, aliás, precisa de pressão política e parlamentar para ser honesto e, por conseguinte, permitirem-lhes que governem segundo Portugal e não segundo o «Povo», como estamos, infelizmente, habituados.
Portanto, as primeiras acções não podem ser o derradeiro ónus da missão institucional do XVII Governo Constitucional. As grandes questões - aquelas que são determinantes para, em definitivo, decidirmos se queremos estabilidade e crescimento - estão ainda na gaveta, com o pó dos últimos anos. A «administração pública» está, por agora, esquecida. A despesa parece estar ainda na fase do «estado de graça». Estado esse que, por ser tão apátivo e apreensivo, esperemos que não continue.
Infelizmente, por muito razoável que seja a governação dos próximos tempos, não me parece que o mais importante irá, sequer, ser decidido fazer. Decisão essa que, em Portugal, tem tradição milenar de demorar décadas a ser concordada.
[João Silva]
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