terça-feira, maio 10, 2005

PSD (Times They Are A-Changin')

O épico esforço higiénico (não «renovador», como gostam os leitores assíduos do Expresso de dizer) que Marques Mendes tem empreendido no PSD é digno de atenção, e muito apoio, por duas razões: uma muito positiva, e outra sensível e cautelosamente «negativa».

No sentido positivo, é perfeitamente admirável a posição do líder do PSD de se manter firme perante as invectivas dos «eternos autarcas» do nosso país, daqueles que, ou por já terem decorado as Câmaras Municipais ao seu gosto ou por terem visto reduzidas as suas alternativas de emprego, se viram obrigados a apostar tudo em reeleições ou em regressos messiânicos. O PSD precisa de «limpar a imagem», não na versão prepotente dos dirigentes dos retratos na parede, mas na acepção de um partido forte, sério e mais baseado na reunião de políticos fortes e de confiança do que no «calculismo» eleitoral que já entronizou diversas figuras locais do provincianismo político (um pouco herdeira do ditado popular «inimigo do meu inimigo, meu amigo é»).

No entanto, «combater» esta tendência (inegável e até vantajosa) caciquista dos núcleos de apoio distritais e municipais tem o seu lado negativo para os resultados imediatos (leia-se imediatos) do PSD. Na tentativa de fortalecer o partido para os próximos anos, é bem possível que se o venha a expor demasiado à demolidora «opinião pública» e à «confiança das bases» (mais um conceito apadrinhado por Santana Lopes e por um emocionado Menezes), que, perante uma quase certa «derrota» do PSD nas próximas autárquicas, achará que tudo estará perdido e tentarão recuperar o seu lugar (com precedentes no Congresso) na oposição interna ao tal hipotético «líder transitório» que será Marques Mendes.

As consequências negativas desta tomada de posição de Marques Mendes bem poderão ser determinantes nas próximas eleições e, mais importante, nos próximos (primeiros) anos da sua liderança do PSD. São, certamente, consequências pouco vantajosas a curto prazo, mas que podem ser um pequeníssimo e louvável passo para arrumar uma dubiamente legítima (mas eleita democraticamente) geração de políticos locais.

[João Silva]