O fim do silêncio
O tema já aqui tem sido abordado, mas merece ser retomado. George Steiner também indicou, várias vezes, a música-ambiente como uma das causas mais subtis mas mais determinantes daquilo a que se poderá chamar a «morte do pensamento».
Nos cafés, o livro e a conversa amena (sem menosprezar o meu tão querido monólogo) foram descaradamente absorvidos, esquecidos e, por fim, substituídos pela música «ambiente» (esqueçam os relativamente agradáveis fundos de Mozart ou Elgar, falo das efémeras bandas pop para potenciais bailarinos).
Do trabalho para casa ou vice-versa, qualquer tentativa de «segurar» um pensamento ou uma semente de uma ideia brilhante é vã: no Metro tocam bandas, contratam-se novos jogadores, vendem-se discos e, ocasionalmente, caem governos, tudo no instante dos altifalantes e do écrã de televisão.
O ser humano sempre receou a solidão e, nos tempos que correm, agarrou-se a tudo o que o possa ligar ao mundo e aos outros. Sem reparar que perdeu, no fundo, contacto com o seu próprio pensamento.
[João Silva]
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