O último Verão
No fim do dia, o rapaz saíra, como sempre, da escola, sem a concessão de um único olhar da rapariga loura de pele perfeita. Magro e sem talento para o cortejo, restava-lhe a vaga consolação de ainda ter alguns anos de proximidade com a ninfeta. Mesmo assim, sabia que, ao mesmo tempo que a rapariga era para ele inatingível, ele era para ela inexistente.
À noite, na cama, como sempre, sonhou com ela até de manhã. A ideia parecia ganhar forma, cada vez mais brilhante. Ao atravessar a estrada, a rapariga seria atropelada por um condutor sem escrúpulos, e ele, célere, surgiria de entre a indigna multidão, correndo e gritando pelo seu nome. Ensaguentada e deitada, imóvel, no asfalto quente do seu último Verão, a rapariga dir-lhe-ia: «Eu sempre te amei...», e beijá-lo-ia mesmo antes do seu último suspiro.
De manhã, lavando os dentes e investigando a acne, o rapaz reafirmou para o espelho: «Seria um fim perfeito para um amor impossível!».
[João Silva]
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