domingo, julho 31, 2005

Conspirações

Parece que Dan Brown, fazedor de dinheiro, lançará um novo livro em 2006. Depois de ler Anjos e Demónios e O Código Da Vinci, o público em geral aguarda pelo terceiro livro, que completará uma suposta trilogia. Com a saída de um novo livro agendada para o próximo ano, o público pode voltar a respirar. Dan Brown não desaparecerá.
Quem também parece sentir muita falta de novas obras de Dan Brown é a imprensa em geral. Provavelmente, o nome de Dan Brown, só por si, venderá centenas de jornais. No entanto, é sempre esclarecedor o facto de o Público, que é somente o melhor jornal nacional, dignar-se a colocar constantemente o nome de Dan Brown nas suas páginas. Claro que seria natural que um jornal de referência quisesse informar o público sobre os resultados económicos da ignorância nacional. Porém, o Público não se interessa pelos índices de vendas de Anjos e Demónios . Não, o Público afirma que «o livro de Dan Brown que encerra a trilogia de Anjos e Demónios e o Código Da Vinci vai chegar às livrarias portuguesas já em 2006.» Mais, o referido jornal interessa-se pela divulgação das sempre complexas tramas a que Dan Brown já habituou o mundo. Eu, que nunca li Dan Brown na vida, sei que «A Conspiração (2001) pega na descoberta de um objecto enterrado no Ártico para tecer uma trama de crise político-espacial.» Atente-se na prosa. Atente-se no jornalista (sem nome) que escreveu «uma trama de crise político-espacial», como se pensasse que, com aquela frase, conseguiria denunciar todas as tramóias políticas deste mundo, em particular, e do universo, em geral.

Com tantas menções a Dan Brown na imprensa (esta que aqui referi é só um exemplo), calculo que não exista apenas um interesse jornalístico de informar as pessoas. Julgo, pelo contrário, que existe um grande partilhar de interesses e de gostos entre público e jornalistas. Dir-se-ia, então, que os jornalistas estão, cada vez mais, perto dos níveis intelectuais das pessoas comuns. Dir-se-ia, ainda, que as pessoas comuns também andarão perto dos níveis intelectuais dos jornalistas. E, quem fala de jornalistas, fala do resto da sociedade, já que as pessoas comuns são, em alguns casos, pessoas com responsabilidades profissionais que ultrapassam a enxada e o martelo; são advogados, bancários, professores, etc. É por isso que não me espanto com aqueles que afirmam que o que interessa é ler alguma coisa, nem que sejam as célebres tramas de J.K.Rowling. Afinal, somos todos pessoas comuns.

[Paulo Ferreira]