quarta-feira, julho 27, 2005

O que fazer quando os troféus saem da praia?

Para grande alegria de todos aqueles que não apreciam as tórridas temperaturas do Verão, a chuva reapareceu. A mudança climatérica pode parecer algo sem grande importância, até porque as vidas de todos aqueles que não suportam o Verão e o calor continuarão iguais, isto é, doentias, vazias, tristes e a roçarem o pretensioso. Porém, mesmo que uma parte substancial do quotidiano individual permaneça indiferente a coisas como a chuva e o calor, a verdade é que as vidas de figuras, de certa forma, doentias mudam consideravelmente com o aparecimento da chuva. A enxurrada de mulheres molhadas que entram nos cafés para fugirem da chuva é exemplo dessa mudança. Com efeito, nos dias de calor e de sol abrasador, o mais provável que aconteça a um indivíduo é ficar sentado todo o dia a espiar as esbeltas pernas da senhora que passa na rua (escrevo no singular porque, realmente, as senhoras que passam na rua não têm cara. São anónimas e, por conseguinte, são componentes de uma única pessoa que vai passando sempre pelo mesmo local). Pelo contrário, nos dias de chuva, as mulheres desaparecem ou enchem os cafés. Ora, o grande problema de existirem mulheres que enchem os cafés nos dias de chuva são, nem mais nem menos, as próprias mulheres. Com isto, não desejo ser mal interpretado, visto que não sofro de qualquer tipo de misoginia. As mulheres são um problema quando enchem um café porque, como se sabe, no Verão a única função das mulheres (bonitas) é ter um bronze de fazer inveja a qualquer crioula do Morro da Tijuca. Ou seja, as mulheres, não tendo sol, vêm para os cafés agarradas aos seus troféus de caça que, neste caso, não são mais que sujeitos dotados de uma ignorância muito elevada e que são conhecidos por serem todos iguais.

Com a entrada das mulheres e dos seus troféus nos cafés, surge um outro problema: como é que se lê ao lado de pessoas que só se conseguem exprimir através de gritos? A resposta para este problema pode ser muito complicada, no entanto, numa tentativa de arranjar um tipo de solução não muito trabalhosa, diria que o melhor é o indivíduo pegar nos seus livros e na sua perversidade e enfiar-se em casa, esquecendo, dessa forma, que está no Verão e que existem pernas queimadas na rua.

[Paulo Ferreira]