Educação em casa
Diz o João que não partilha do meu desprezo pelo objectivo dos livros de J.K. Rowling, visto serem os livros da famosa escritora dirigidos a «um público claramente infantil». Compreendo a mensagem e a disposição do João. Porém, não posso deixar de acrescentar que os livros de Rowling não são dirigidos somente a um público infantil. Pelo menos, julgo que a pretensão de Rowling é fazer com que a sua obra chegue a todo o tipo de público. Prova disso é o facto de Harry Potter and the Half-Blood Prince, último livro da série Harry Potter a ser lançado para o mercado, ser escrito em duas versões, mais especificamente, em versão infantil e em versão adulta.
Por outro lado, surpreende-me o João quando refere que «Os Harry Potter's são livros infantis, nada mais, e entende-se o fenómeno por reacção mini-intelectual aos rapazinhos que querem ser Cristianos Ronaldos quando crescerem (a começar pelo penteado e desenvoltura do torso).» Surpreendo-me pela forma descontraída com que o João assiste a uma negação total daquilo a que se poderia chamar de «educação saudável». Bem sei que as pobres crianças terão oportunidades de crescer e de aprender mais tarde o que não aprenderam quando estavam a ler J.K.Rowling. Porém, não posso deixar de afirmar que é na infância e na adolescência que se adquirem conhecimentos que, mais tarde, se revelarão essenciais para o desenvolvimento intelectual de um indivíduo. Com efeito, a educação deveria ter um papel fundamental na vida das pessoas, e não na vida do Estado, como se refere muitas vezes. Deveria haver uma maior responsabilidade cívica, para que não existissem rótulos de indivíduos precoces (leia-se indivíduos que leram alguma coisa decente na infância) e de indivíduos eternamente incapacitados. Com isto não quero dizer que deveríamos andar todos, obrigatoriamente, a ler Rilke ou Dostoiévski aos dez anos. Não, digo é que deveríamos evitar os casos crescentes de indivíduos (que de crianças só têm o cérebro) que pernoitam numa livraria para comprar best-sellers, que muitas vezes não passam disso mesmo. E, quando digo «devíamos», digo «nós» indivíduos (separados do Estado) preocupados com o futuro do país.
[Paulo Ferreira]
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