sexta-feira, julho 22, 2005

Questões sentimentais

Naqueles tempos em que o conceito de modernidade parecia não ter qualquer tipo de significado, observava-te à distância como quem assiste, sem nada poder fazer, ao naufrágio de um navio. Sentavas-te no banco de jardim dos teus dias e, num truque de metafísica, sorrias. Depois, sem saberes que te observava à distância, copiavas versos das canções que ouvias para um papel cor-de-rosa e escrevias por baixo o meu nome (um pouco infantil, convenhamos). Era este o verdadeiro significado da palavra amor, sentimento partilhado sem qualquer tipo de pulsão física. Mas, à medida que o tempo avançava e que tu crescias na hierarquia urbana, os significados de amor e de modernidade começaram a confundir-se um com o outro. Talvez por isso não me tenha espantado quando disseste que não tinhas tempo para questões sentimentais.

[Paulo Ferreira]