Uma vitória
No dia 21 de Outubro de 1805 teve início a batalha de Trafalgar, batalha essa que, devido ao seu profundo sentido heróico, seria, posteriormente, transformada numa das mais brilhantes vitórias inglesas sobre os megalómanos franceses, liderados por Napoleão Bonaparte e sobre os, então, seus aliados espanhóis. Para quem conhece as tensões políticas que rodearam Trafalgar e o cerco de Cadiz, saberá, com certeza, que a vitória inglesa, não ditando a definitiva queda de Napoleão, serviu, pelo menos, para que os ingleses conseguissem afastar o fantasma de uma mais que provável invasão francesa. Em certo sentido, poder-se-á considerar que o afastamento de qualquer hipótese de invasão francesa constitua o principal motivo das celebrações inglesas sobre os duzentos anos de Trafalgar. Porém, sendo a batalha de Trafalgar uma batalha épica, não poderão deixar de ser celebradas as mortes dos mais nobres heróis, que travaram, contra todas as adversidades, uma luta deveras sangrenta. Com efeito, nomes como os de Nelson (que montou a estratégia da batalha já cego de um olho e desprovido do braço direito), Colingwood, Gravina (espanhol) e Villeneuve (francês) não podem deixar de ser mencionados. O mesmo se passa com barcos lendários como o Victory, o Temeraire, o Bellerophon, entre outros.
Apesar de a batalha que se deu em Trafalgar ser considerada, devido à importância dos seus heróis e dos seus vilões, como uma batalha épica, não se pode afirmar que a mesma batalha tenha sido resolvida apenas através dos golpes de génio de Lord Nelson ou através das contradições de Napoleão e do infiel Villeneuve. Afinal de contas, a batalha só foi resolvida semanas depois de Lord Nelson ter morrido em campanha e Villeneuve, apesar de todas as contradições, foi corajoso ao não cumprir as ordens de Napoleão, que ditavam o seu afastamento de Trafalgar. Portanto, na minha opinião, o que se comemorará a 21 de Outubro deste ano será não apenas o bicentenário da morte de um herói, mas também o bicentenário da vitória de uma nação corajosa. Afinal, o que é a guerra sem homens?
[Paulo Ferreira]
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