terça-feira, novembro 08, 2005

Joie de vivre

Para alguns indivíduos mais apaixonados pela contemplação da beleza etérea, viver é uma alegria que deve ser exacerbada ao máximo. Para esses indivíduos de espírito juvenil, a vida é uma festa. Seguindo a velha máxima do carpe diem, vive-se o momento para que não seja o momento a viver-nos. Porém, quem olhar para essa rapaziada tem a tentação de pensar que a alegria de viver o momento não passa de uma grande ilusão. Com efeito, o adolescente que gosta de ser olhado como janado ou o quarentão com pinta de bonacheirão, quase marialva, vivem uma alegria aparente, que, como o estado de espírito em que julgam viver, se derrete com o momento. No fundo, pode-se pensar num certo livro de Luciano ( Eu Lúcio, Memórias de um Burro) e pensar-se que se é um burro orgiástico, que se vive para a decifração de alguns dos muitos enigmas sexuais que partilham este mundo connosco, pobres e ingénuos mortais. Mas a verdade é outra. A verdade é que por detrás dos sorrisos escondem-se as olheiras, o cansaço, as insónias, a humilhação, o vexame, a vergonha. A alegria metamorfoseada em felicidade é um momento que se esbate com o passar das ilusões e dos sonhos. Não existe utopia alguma que possa contrariar a dor, a tristeza, o pensar.

É certo que, em determinados momentos, alguns indivíduos conseguem atingir alguma alegria ou felicidade. Todavia, não se pode querer tornar algo que é transitório ou efémero, como a felicidade e a loucura a ela associada, numa coisa eterna, imutável, inexorável, já que a felicidade, como o amor, é um daqueles conceitos quase inatingíveis para o Homem.



[Paulo Ferreira]