Vidas no Café X
Escrever sobre algumas das minhas vivências, enquanto frequentador assíduo de quase todo o tipo de cafés, é algo que, na minha simples opinião, deve ser feito jocosamente. O acto de escrever sobre as minhas idas diárias ao café tem de ser, então, feito como se se tratasse de uma nota pessoal hiperbólica, desconjuntada. Uma nota pessoal, embora seja pessoal, pode ser transmissível. É, alías, esse um dos grandes objectivos das notas pessoais: a transmissão. Uma nota pessoal, se não fosse transmissível, resumir-se-ia a um post-it colado na mesa de cabeceira de cada um, com mensagens do género «Não esquecer de gostar da Ana!». Porém, uma nota pessoal, se se resumisse apenas a um post-it que contivesse o óbvio (mensagens que nunca ninguém se esquece), não teria piada alguma. Normalmente, uma nota pessoal tem de ser lida por alguém que não o autor dessa mesma nota, dado que quem escreve uma nota também quer uma resposta que não seja a sua. Assim, escrever sobre vivências num café pode ser um acto etimulante, assim como pode ser um acto deveras embaraçoso. Tudo depende do estado de espírito de quem as escreve. Tudo depende da carga emocional, sexual, erótica, sarcástica, sádica de quem as recebe.
[Paulo Ferreira]
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