Os americanos
Pergunta-me o Paulo o que eu acho disto. Ora, serão os americanos mesmo estúpidos? São. Serão os portugueses realmente iletrados? Claro. E os ingleses, serão ignorantes? Pode-se dizer que sim. Qualquer pergunta ou pseudo-estudo sobre a estupidez dos homens (ou sobre o «fenómeno da ignorância», para quem vive no século) terá, necessariamente, de encontrar uma resposta afirmativa. Repare-se na nossa própria miséria intelectual, num país que recomenda «proteger o que é nosso», o que é português, condenando assim boa parte das artes de há 20 anos para cá à quase nulidade.
Ora, também os americanos têm direito a ter acesso a um amor dedicado ao seu país e, em última instância, aos gostos básicos de qualquer homem ou mulher. Quem odeia realmente o actual Presidente americano (para muitos, os presidentes americanos têm todos a mesma cara e o mesmo nome), e perde noites de sono por causa do meu caro George W. Bush, tam o hábito de dizer que os Estados Unidos (a «Améreca») estão sublimemente representados nos patriotas do Sul do país, amantes de NASCAR, muitos deles apoiantes da NRA e apreciadores (em igual nível) tanto da Super Bowl como dos grandes «rallies» repubicanos. De facto, em parte, a «América» pode, actualmente, ser representada assim. Para quem não conhece o país, estas pessoas simples podem mesmo ser encaradas como a grande ameaça à segurança global. Mas o que dizer, então, de nós, onde o primeiro-ministro assiste solenemente aos jogos de futebol ou a mulher do Presidente veste a bandeira nacional para assistir a jogos da selecção? Ou de um sítio na Europa onde as simples gentes de Canas de Senhorim rasgam a camisa e dão o peito à morte clamando pela independência da vilória?
Todos os países têm uma camada «menos erudita». A cultura do hamburger como a do tremoço, a do NASCAR como a do futebol britânico, assim como também há a causa para a abolição do controle de armas como a causa pela laicidade agressiva do Estado na Europa (valor irrelevante das origens dos Estados Unidos, onde as crenças individuais estão acima da «crença de Estado»).
Porquê troçar então de Charlton Heston ou de Grover Norquist e das suas causas quando em Portugal há gente que, à vista de um barco holandês, corre e salta para o Tejo a gritar: «Eu já abortei!»? A questão é delicada, sobretudo porque falamos de um país (EUA) que terá, talvez, as melhores universidades do Mundo. Afinal, todos os países têm direito a ter a sua tradição popular, o seu patriotismo.
E, enquanto os Estados Unidos não abraçam as ideias «Progressistas» e extremamente «Humanistas» que, por exemplo, na Revolução Francesa se adoptou - exterminar camponeses na Vendeia -, vai-se dando espaço à existência e à escolha possível das tradições populares, simples. Estupidez ou não, essas tradições existem em todo o país conhecido.
[João Silva]
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