Cafés e chuteiras
No café, almeja-se o grémio. O café e o cigarro vão deteriorando as mentes à medida que o tempo passa. Fala-se de Kafka, Miller, Cohen, Dylan, Rachmaninov. O cigarro arde, as vontades também. Pouco a pouco, Kafka transforma-se no novo jogador do Sporting. Miller no jogador que falta. A conversa perde o eixo e vagueia triste pelas páginas desportivas dos jornais. A política desilude e o futebol, num oportunismo desmesurado, vai enchendo os pequenos vazios das conversas em fase descendente. Nos escombros do debate inteligente, vem a nostalgia da infância da bola de futebol. Essa é a sina do Homem português: morre o político, ressurge o filósofo em chuteiras.
[João Silva]
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