Comédia à portuguesa
O «barco da discórdia» chegou. Da discórdia? Será essa a palavra correcta? Como se pode discordar de algo que é proibido por lei? Em Inglaterra, antes de lá aterrar, não se sabe bem de onde, uma geração diferente, era um país que muito nos teria a ensinar sobre este aspecto: a lei. Mais do que a lei, sobre a conduta moral. Em Inglaterra nunca se precisou de leis escritas para determinar o que é certo e é errado, o justo e o injusto.
No presente caso em Portugal, não se trata de debater se se devia ou não legalizar o aborto no país, embora esta seja uma altura que propicia muitas explosões emocionais para além da reflexão política. A questão realmente importante e que, graças à imposição do voto popular e da opinião pública, se transformou em mais um debate partidário (uma disputa clássica no espectro esquerda-direita), é a necessidade de compreender, não o perigo que os tripulantes representam para a moral portuguesa, mas a relação entre a «função» do dito barco e a lei em Portugal. Se um barco habitualmente relacionado com tráfico de droga viesse atracar em portos portugueses, certamente que os apoiantes da legalização não iriam receber em apoteose os tripulantes.
Os ingleses sempre respeitaram um código de leis virtuais que desde cedo interiorizaram, os portugueses nem as próprias leis, que votaram, respeitam. É um questão de tradição civilizacional.
[João Silva]
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