segunda-feira, setembro 20, 2004

Inocência

Encontro-me em ar aberto. Hábito algo perdido. Vivemos agora em muralhas de vidro, por mais estranho que isso pareça ao macaco pelado das savanas (mas como diria o Miguel Esteves Cardoso, não somos assim tão pelados quanto isso).
Como já disse, encontro-me em ar aberto e aproveitando o dia, olho os pombos já meus conhecidos. Não têm nomes, mas sinto-os meus companheiros, não, mais que isso, sinto-os meus amigos. Admiro-os, tal como à grande maioria dos animais. Eles são inocentes na forma como vivem. Para eles a malícia não existe.
Já os leões, os tigres, os tubarões e toda essa bicharada não são maliciosos. Eles podem matar, comer carne, o diabo, mas nunca por malícia. Eles fazem-no pela sobrevivência e não por poucas vezes por pura curiosidade. No fundo, pode-se dizer que é a sua natureza.
O ser humano por outro lado, só é inocente num curto espaço de tempo. Na infância. A criança pode estragar muitas coisas, aleijar o próximo e até matar, se tal fosse possível a um bebé, mas seria sempre inocente. Ele apenas o faria por curiosidade, nunca por maldade, o seu intuito é, tal como nos animais, descobrir e não destruir.
Tenho um amor aos inocentes. Talvez por lá no fundo, me imaginar um. Gostava de ser inocente. Não o sou, mas gostava de ser.

[Tiago Baltazar]