Manuel, o homem feliz
Manuel, ébrio como sempre, caminhava tresloucado pelas ruas da sua pequena aldeia. A sua única companhia era uma garrafa de vinho tinto que, por sinal, tinha sido roubada na mercearia de um senhor simpático, que era conhecido na aldeia por Tóino da Loja. Presume-se que, jamais alguém conhecera o seu verdadeiro nome.
As bebedeiras eram as companhias diárias deste ser desiludido com a vida. Porém, naquela caminhada, Manuel poderia ser bêbedo, o homem mais bêbedo do planeta, já que a sua aldeia estava em festa e, naturalmente, a multidão jorrava bagaço pelos dentes. Nesse dia, o homem poderia caminhar tranquilo. Ninguém o recriminaria.
Contudo, as manifestações de alegria que Manuel ia recebendo da populaça, enquanto caminhava, eram efémeras. Ele sabia-o. No dia seguinte, já ninguém se lembraria da sua existência, nem o próprio Manuel. Por isso, a sua caminhada prolongou-se até ao crepúsculo. A fuga ao sofrimento parecia evidente. À medida que caminhava, o bêbedo ia-se contagiando, progressivamente, de alegria. Dir-se-ia que era uma alegria solitária, própria de quem tem consciência da sua própria miséria.
[Paulo Ferreira]
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