A última tarde
Naquela manhã, sentia-me bem. Caminhava pelas ruas deste velho bairro, como se fosse a primeira vez. Sentia-me bem por saber que tinha alguém à minha espera em casa. Decido entrar num café, não num qualquer, mas no café das minhas tardes de verão. O criado era simpático. Sentia-me bem por ali poder estar. Poderia desperdiçar várias horas da minha tarde naquele café, sentado descansadamente, a ler alguns capítulos do meu livro.
Com o passar das horas, fui ficando impaciente. Mesmo assim, sentia-me bem. Era a minha tarde. Ninguém ma poderia roubar. Porém, apesar de estar possuído por uma estranha felicidade, que quase não me deixava raciocinar, fui-me lembrando das outras tardes que se seguiriam àquela. Fiquei naquele café até ao aparecimento das primeiras estrelas no céu. Depois, parti. Afinal de contas, quem me esperava era a morte, e ela já esperava por mim há muito.
[Paulo Ferreira]
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