Wagner e as artes (cristã e grega)
Wagner alude ao que ele apelida de um dos maiores, senão o maior, «fracasso» da tradição Cristã, de permitir ao Homem fazer uso dos sentidos, de sentir na arte. Para o cristão, o Homem deveria estar desligado da realidade, do palpável, para criar arte.
Daí a necessidade de recorrer à Grécia e à Roma pagãs, cuja arte beneficiava do amor ao «belo» (na sua acepção física). O corpo é arte, simplesmente. Não há qualquer necessidade de interiorização. Wagner renega a «existência de fé» (apenas e sempre fé) em favor do que se poderia chamar um «orgulho humanista».
Wagner resume a visão grega:
«O homem grego, livre, colocando-se a si mesmo no ponto culminante da natureza, pôde criar a arte a partir da sua alegria de ser homem.»
E a visão cristã:
«O cristão, rejeitando-se a si mesmo e à natureza, só podia sacrificar ao seu deus sobre o altar da renúncia; não lhe podia apresentar a oferenda da sua criatividade, dos seus actos; acreditava, pelo contrário, que só poderia obter a graça divina abstendo-se da ousadia de qualquer produção pessoal.»
-Richard Wagner, A Arte e a Revolução
[João Silva]
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