sexta-feira, setembro 03, 2004

Um Desgosto de Amor

Vivo com um desgosto de amor, paixão, obsessão (como tão eloquentemente o diz Sir Anthony Hopkins em Meet Joe Black).
Como pode ser que um sentimento tão belo, o de estar enamorado, apaixonado, se demonstra ao mesmo tempo tão feio, tão tortuoso? Sei que amei e fui amado, foi bom, mas só agora olhando para trás, depois de tudo terminado, percebo a verdadeira magia de tudo o que aconteceu, tudo o que tive, tudo o que dei. E agora, que amo sem retribuição jazo estendido no chão com a alma em permanente suplica, em permanente choro.

Acusam-me de ser um romântico, que vivo numa época em tudo romântica. É verdade, os livros que mais admiro retratam essa época, e apesar de conhecer a verdadeira natureza do homem, do homem Hobbesiano, do homem Darwinista, eu continuo a acreditar na ilusão romântica, na ilusão do belo.
Foi Somerset Maugham quem tropeçou numa das maiores verdades sociais e relacionais. Talvez ainda muito ignorado, é uma pena, pois é um escritor que vale a pena ler – posso até admitir que é o meu preferido. Maugham, parafraseando, diz pura e simplesmente isto: em todas as relações existe aquele que ama e aquele que se deixa ser amado.
Eu amei e fui amado. O que prefiro? O meu cérebro diz-me que é muito melhor deixar ser-se amado, a ligação com o outro é menor e se correr mal correu, acabou, pronto. Mas o coração, ai o coração – maldita veia romântica – o coração quer amar, quer também ser amado, é óptimo ser amado, mas o coração precisa de amar, senão perde a vontade de bater.

Como digo, vivo com um desgosto de amor e paixão, de um coração que ama. Que me passa pela cabeça nestes momentos? Bom, gostava que rebentasse ai uma guerra. Sim, uma guerra. Qual a causa, pouco me interessa. Quero ir para um país do outro lado do mundo, matar aqueles que me são indiferentes, não por qualquer causa politica, mas porque são desconhecidos. Sim quero matar e acima de tudo morrer, morrer como um herói, com uma medalha póstuma colocada sobre o meu caixão, com aquela que me renegou chorando junto ao meu corpo frio e só tendo uma coisa para lhe dizer, tais palavras seriam cravadas na minha laje: Matou. Matou por Amor.
Maldita veia Romântica!...

[Tiago Baltazar]