De Canas de Senhorim para o país
Os últimos casos de estupidez em zonas do Portugal profundo lembraram-me de uma coisa deveras importante: Canas de Senhorim não é uma terra abandonada pelo progresso. Não.Canas de Senhorim é o próprio “progresso”.
Aquele Portugal profundo que luta por um estatuto insignificante através de autênticas insurreições armadas, explica-nos, no fundo, o que é Portugal e o que são os portugueses: um país que ainda não se deu conta da sua inexistência, habitado, maioritariamente, por parolos nostálgicos que desejam ver a sua própria ignorância reconhecida. Em certo sentido, todos os que querem ver a sua própria ignorância reconhecida são progressistas, já que julgam conhecer o caminho que levará este pardieiro à glória e ao desenvolvimento. Assim sendo, são afectados pelo ideal progressista aqueles indivíduos que desejam ardentemente um Concelho ( o Concelho do desenvolvimento), tal como, são progressistas aqueles seres que sonham com um Portugal que morreu no século XVI, e que não tem a mínima hipótese de renascer.
Enquanto não percebermos que estamos todos condenados, não percebemos que ser freguesia, município ou concelho, não é diferente de sermos nada.
[Paulo Ferreira]
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