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Por vezes, deseja-se, mesmo que não se consiga, escrever sobre algum assunto do nosso quotidiano ou do quotidiano alheio. Esse desejo de escrita é um exercício que se pratica diariamente, mas que, normalmente, não tem efeitos práticos (se se descontar o facto de esse desejo de escrita conseguir transformar o sujeito mais pacato do mundo num autêntico vira-mexe, através do chamado "desespero de não dar para mais", não há efeitos práticos). De qualquer forma, a escrita é sempre influenciada por dois factores, que constituem um grande entrave ao seu próprio desenvolvimento: a vontade e a inspiração.
A vontade e a inspiração são termos que se confundem e que estão intimamente interligados. Dependem ambos de factores como o clima, a programação televisiva e o cansaço. Porém, mesmo nos dias de maior vontade e inspiração falha sempre a originalidade (um lexema em extinção). Isto é, por maiores que sejam a vontade de escrever alguma coisa decente e a inspiração , nada do que possa surgir para a folha de papel será algo que não tenha semelhante,
que seja singular, extravagante ou excêntrico. E é esse um dos grandes problemas de escrever (mesmo que se escreva sobre o nada, como faço agora) : ter-se consciência de que se está a plagiar alguém, mesmo que não se saiba quem.
[Paulo Ferreira]
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