A ler... II
A ler a coluna de Alexandre Pais na Sábado de hoje:
«Neste início do ano não me deixei abalar demasiado pela catástrofe provocada pelo sismo nas terras no fim do Mundo. Afinal, a desgraça faz parte da vida e os desastres desta envergadura são a forma de a mãe Natureza dizer aos homens que são eles que se devem vergar à sua vontade e não o contrário. Em período sempre favorável à reflexão prefiro olhar para o meu país e para as suas fragilidades, misérias e injustiças.
(...) Quando uma grande empresa suíça que quer investir 500 milhões de euros e dar trabalho a 1.200 pessoas no desertificado Alentejo espera há já 14 longos anos que a burocracia e a estupidez lhe permitam avançar, quando um «fidalgo» da treta que urina e evacua à largueza perante o interesse alvar de uma audiência de milhões é ovacionado de pé na hora em que sai de cena como se tivesse acabado de ganhar o Prémio Nobel, (...) então já nada nos pode surpeender, os nossos padecimentos são quase tão insuportáveis como os dos infelizes turistas que estavam no local errado do Planeta naquele trágico 26 de Dezembro.
O futuro que nos espera, se é que temos algum e se ele conta connosco, é no mínimo imprevisível. Como o apetite sexual de um hermafrodita.»
- Alexandre Pais, in Sábado, 07/01/2005
[João Silva]
<< Home