domingo, fevereiro 13, 2005

Agnosia

Quando se é demasiado ligado às paixões partidárias, a tendência é sempre para deformar as palavras e frases de representantes prestigiados de facções partidárias inimigas. Nem me refiro à classe política em si, porque o facciosismo aì é evidente. Refiro-me a colunistas, escritores e, até, a simples leitores anónimos (a grande maioria). Todos, ou quase todos esses colunistas, escritores, etc., quando não gostam de um simples autor, tratam logo de o difamar com insultos injuriosos (se é que possa existir um insulto que não seja injurioso). Porém, a realidade é muito mais profunda e fragmentada que uma "leitura superficial" (entenda-se aqui que a "leitura superficial" abrange diferentes formas de facciosismo). Desse modo, torna-se necessário, para que se compreenda a complexidade do real, fazer levantamentos exaustivos de informação, pelo menos dos autores que se pretende criticar.

Um exemplo flagrante da agnosia que se tem apoderado da massa "intelectual" portuguesa é Derrida. Na altura da sua morte, Derrida atingiu o pódio da fama no "nosso" país. Pelas piores razões. Saliente-se que as piores razões não tiveram que ver com a sua morte, mas somente com as suas concepções filosóficas. Ora, nada tenho contra as críticas que são dirigidas a um autor. Pelo contrário, até defendo a crítica à brasileira, que ainda só existe por cá em esboço. Contudo, dessas criticas a Derrida, quantas foram feitas com "conhecimento de causa"? Teria Derrida assim tantos leitores na sociedade intelectual portuguesa? Julgo que não, até porque os argumentos usados contra o dito autor não passavam do género, demasiadamente bem conhecido, "Derrida é feio!".

[Paulo Ferreira]