segunda-feira, março 28, 2005

António Borges

Por mais que tente, tenho sempre muitas dificuldades em idolatrar figuras como António Borges, apesar de concordar com quase todas as ideias do senhor. Reconheço até que, numa hipotética candidatura de Borges à liderança do PSD, lhe daria todo o apoio. Porém, apesar de admitir que as ideias de António Borges são essenciais para o futuro do país, não posso dar toda a admiração a uma pessoa que parece não ter consciência de que metade das suas ideias não passam de meras ilusões. Por exemplo, uma ideia que já muitos, como António Borges, afirmaram ser essencial para o futuro do país é a da redução do peso da função pública. Ora, a redução da função pública, só por si, não resolve nenhum problema em concreto. Pelo menos, se se tiver em conta que metade dos cursos universitários deste país são, neste momento, dirigidos para a função pública. É ainda de salientar que, a maior parte da população portuguesa, nasce, desde logo, afundada nas redes da função pública. Ou seja, como é que se pode acabar com a função pública num país que nasce e morre para a função pública?

Um outro motivo de antipatia para com António Borges reside no papel de salvador da direita, que parte da imprensa lhe tem atribuído. Não sei, ao certo, até que ponto António Borges tem interpretado o papel de salvador da pátria. Mas, pelo que parece, o dito senhor não se tem incomodado muito com a visibilidade que a unanimidade lhe tem dado, nem sequer se tem inibido de mandar recados para dentro de um partido que se recusa a liderar, à semelhança de António Vitorino, outra personagem mitológica deste país.

[Paulo Ferreira]