Beethoven e "amigos"...
A propósito do tema abordado este ano na Festa da Música (que teve o seu início ontem), apenas algumas palavras. Tanto benevolentes como críticas.
A temática abraçada este ano tem muito interesse, por ser realmente incomum surgir um evento deste género onde se ouça não só a música de grandes compositores, como também de alguns dos compositores ditos menores frequentemente associados a esses grandes compositores. Nesta edição surge-nos Beethoven, bem como alguns dos seus "amigos"...
De facto, e reconhecendo que não só os grandes mestres podem ter o privilégio de ver as suas obras executadas, é louvável a recuperação de, por exemplo, Weber, Salieri, entre outros. O que, sendo um enorme ponto a favor desta iniciativa, não deixa também de ser algo descabido. Descabido porque, apesar de interessante, não é música com, a meu ver (e eu até percebo alguma coisa de música...), interesse artístico suficiente para poder ser executada em concertos deste tipo. Tem, sim, muito interesse didáctico. Posso até citar um concerto que me pasmou, quando o vi na programação, por ser inegavelmente inapropriado: "A Arte de Desligar os Dedos, Op. 699", de Carl Czerny, por Jean-Frédéric Neuburger. Reconheço que seja um recital de algum interesse, mas não para as pessoas sedentas de música, por uma razão muito simples, que se prende com a obra que irá ser executada. "A Arte de Desligar os Dedos" é uma obra admirável. Mas apenas para os alunos de Conservatório, que a têm que tocar (ou que a devem tocar...), pelo fim didáctico que a que esta está adjacente. Este livro é, meramente um livro de exercícios técnicos, não podendo nunca ser utilizado com fins artísticos, sob pena de influenciar decisivamente os ouvintes a jamais tornarem a um recital onde se ouça música escrita para piano. Ainda assim, e apesar do mau gosto na escolha, seria óptimo que os mesmos alunos de Conservatório decidissem assistir a este "espectáculo", para colocarem as peneiras de parte e pensarem nas suas limitações e no bem que lhes faz este tipo de obras à qualidade técnica (sim, porque estes meninos de Conservatório acham-se incríveis, mas não passam de... meninos).
Mesmo assim, posso dizer que fiquei bem impressionado com a organização, por esta não se ter poupado a esforços para presentear os ouvintes com grandes intérpretes como António Rosado, Nikolay Lugansky, Boris Berezovsky, Miguel Henriques, o Quarteto Ysaÿe, Tânia Achot, Olga Prats, e Jorge Moyano, entre muitos outros de enorme qualidade.
[Gonçalo Simões]
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