A cunha
Isaltino Morais acusou Marques Mendes de meter cunhas. Desde essa ignóbil acusação, que só ridiculariza a figura do manda-chuva de Oeiras, muitas vozes se levantaram a pedir justificações a Marques Mendes. Ora, só num país atrasado como o nosso é que se pedem justificações por tudo e por nada. Na minha opinião, Marques Mendes faz muitíssimo bem em não responder aos impropérios de Isaltino. Mesmo que o líder do PSD tenha realmente metido cunhas, não tem de se justificar a ninguém. Ao afirmar isto, estou a ter em conta que Portugal é o país da cunha. Com efeito, todos nós conhecemos, certamente, a velha história do tio que tem um sobrinho que é filho do filho de não sei quem e que, por causa disso, consegue arranjar uma boa colocação numa empresa ou num partido político. É assim que funcionam as coisas em Portugal. É por ser assim que as coisas funcionam neste país que fico espantado com as castas almas que pedem explicações a Marques Mendes.
Contudo, para além de ser um país corrupto e desonesto, Portugal é ainda um país de grandes valores morais. Qualquer desavença entre políticos dá direito à «defesa da honra» ( a «defesa da honra» é quase um totem português). Português que é português, defende a sua honra com unhas e dentes. Até o maior corrupto sente necessidade de gritar para o mundo ( sim, porque é a gritar para o mundo que melhor se defende a honra em Portugal) que sempre foi sincero e frontal. Portanto, sendo a honradez um dos grandes atributos nacionais, é natural que, depois da acusação de Isaltino Morais, meio Portugal se tenha chocado com o silêncio de Marques Mendes. Mas, cá para mim, Diogo Mainardi é que tem razão, quando afirma que em boca fechada não entra bala nem mosca.
[Paulo Ferreira]
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