sexta-feira, maio 20, 2005

Selva I

Desde cedo percebi que o Homem era um animal. Todavia, ainda hoje não consigo perceber se é animal racional ou não-racional ( era assim que se diziam as coisas na primária). Por um lado, haviam todas aquelas concepções de progresso que me atordoavam a alma de criança. Por outro lado, viver em Portugal era uma coisa que não me deixava alimentar grandes ilusões em relação a quase nada (quando comecei a ler livros de Jean-François Revel, o sentimento de desilusão em relação ao homem agudizou-se). Diga-se que a palavra «Portugal» sempre teve uma grande influência em mim. Tanta influência que nunca cheguei a acreditar que houvesse, na realidade, qualquer tipo de distinção entre progresso e utopia. Chego, até, a confundir os dois conceitos. De Portugal, país malfadado, nunca me esqueço. Aliás, lembro-me tanto desse país, que estou cada vez mais inclinado a acreditar que o Homem é um animal não-racional.

[Paulo Ferreira]