Nós, neo-fascistas de esquerda
Ou Mário Soares não estava certo quando disse que o povo português é de esquerda (mas ele engana-se??) ou então temos um povo de esquerda, libertário, que de vez em quando tem uns ataques de fascismo. O povo que num dia entoa a cantilena dos direitos para isto e para aquilo (que mascaram muitas vezes a má-educação e a preguiça), da liberdade contra tudo e tudos ou do «perigoso reaccionarismo» do PP, no dia seguinte já é fascista convicto e defende a morte dos pretos sem direito a julgamento prévio, a auto-tutela do direito de propriedade, o «orgulhosamente sós» aplicado às leis de imigração.Vem isto a propósito da morte de dois polícias na Amadora e dos zunzuns xenófobos que se vão ouvindo a esse propósito. Sempre fui favorável à existência de forças policiais bem apetrechadas e com prerrogativas legais e materiais adequadas à sua missão. Mas quando os senhores agentes se decidem manifestar porque o país é inseguro e correm risco de vida, só apetece dizer: «muda de vida, se não vives satisfeito»... Também sempre me irritaram os guetos sociais, a cultura de bairro, e a protecção politicamente correcta dessa suposta «cultura das minorias» que muito comodamente ignora a existência de tráfico de drogas e de seres humanos, lavagens de dinheiro, servilismos sociais vários. Agora, a abordagem também não pode ser o exagero de expressões como «voltem todos para a vossa terra». Para o bem e para o mal, muitos deles já não têm outra terra senão a nossa.E não podemos, não podemos mesmo, esquecer que por cada imigrante problemático há 999 pessoas vindas de outras paragens que só querem trabalhar, educar os seus filhos e ter uma vida pacata. Pelo respeito que nos merece a dignidade de todos os homens e porque um dia podemos ser nós os «estrangeiros», os «outros».
(As circunstâncias são algo diferentes, eu sei. Mas o que aqui se transcreve é uma citação do que publiquei no Notas Várias a propósito de um outro "caso polémico". E não mudo uma vírgula)
[Bernardo Sousa de Macedo]
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