sexta-feira, junho 17, 2005

Povo

O Bernardo sublinha um retrato das «massas portuguesas» (e não falo de culinária), distraídas com o elogio dos mortos e a ridicularização dos vivos. A reunião da ignorância de um português com a ignorante turba já formada só pode resultar na «indignação» e «choque» que abundam nas emissões populares da TVI, SIC Notícias, TSF e tantos outros.

Um dia Vasco Gonçalves gritou «Ou estão com a revolução, ou estão com a reacção!». Em dia de Sol português, o ênfase dado ao termo «revolução» insinuou uma escolha óbvia (e incondicional) e do agrado dos plebeus. E o povo aceitou. Da mesma forma, quando Mao nadava no rio, todos iam assistir e viam naquela «barriga insubmersível» (o termo é de Nelson Rodrigues) o ventre da utopia marxista. Já Estaline, quando dizia duas palavras em discurso, apreciava de seguida 20 minutos de palmas de «fiéis seguidores do Partido». Em suma, o ser humano, bem ensinado, é capaz de tudo e de ver todo o tipo de coisas. Mesmo em países livres. O caso português não é diferente, e muito menos novo. É uma armadilha cristã, a liberdade de expressão. Todos os argumentos são prováveis de aparecer.

O post do Bernardo di-lo melhor e dum prisma mais sólido. Como ele próprio disse, «não lhe mudo uma vírgula».

[João Silva]