sexta-feira, junho 10, 2005

Tragédia humorística

No Portugal mediático, o humor é, à semelhança do fado, triste. Liga-se o pequeno ecrã e aparece alguém a tentar fazer humor. Folheia-se uma revista e lá está alguém a contar piadas. Enfim, se Manuela Moura Guedes consegue ter alguma piada, outros como Paulo Camacho, Rodrigo Guedes de Carvalho e Júlio Magalhães não conseguem ter qualquer sentido de humor. Quanto aos programas de humor, que tantas audiências dão aos canais generalistas, nem vale a pena fazer comentários. Pode-se argumentar que temos o Gato Fedorento. Contudo, o Gato Fedorento não chega a toda a gente. Poder-se-ia, então, afirmar que o grande culpado por esta falta de humor, que se abateu sobre todos aqueles que querem fazer comédia no nosso país, é o menino Tonecas. Afinal de contas, o humor neste país baseia-se, quase assustadoramente, nesse senhor que conta piadas em falsete, como se fosse uma criança de oito anos.

No que diz respeito à vida real, a conversa é outra. Com efeito, os portugueses que não precisam de aparecer para existir costumam ter um bom sentido de humor. A explicação para esse fenómeno é a seguinte: os portugueses, querendo fazer tragédia, fazem comédia. Exemplo disso é a típica senhora que, ao tomar conhecimento da morte de uma vedeta de televisão, grita um «ai Senhor!» para os céus.

[Paulo Ferreira]