Aprender o trabalho do amor
Mas agora, que tanta coisa muda, não será a nossa vez de mudarmos? Não poderíamos tentar evoluir um pouco mais e assumir lenta e gradualmente a parte que nos cabe do trabalho no amor? Pouparam-nos a todos a sua dor, e desse modo nos escorregou para o meio das distracções, como cai, por vezes, na gaveta dos brinquedos de uma criança um bocado de renda verdadeira causando alegria e deixando de causar alegria e por fim ali fica entre coisas partidas e escangalhadas, em pior estado do que tudo o resto. Estamos estragados pelo prazer fácil como todos os diletantes e é-nos atribuída a mestria. E se desprezássemos os nossos êxitos, se começássemos desde o princípio a aprender o trabalho do amor, que sempre foi feito para nós? Se partíssemos e nos fizéssemos principiantes, agora que tantas coisas mudam?
Rainer Maria Rilke, As Anotações de Malte Laurids Brigge
[Paulo Ferreira]
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