sábado, agosto 20, 2005

Muleta do homem-novo

Segundo uma notícia do Público, o chefe da Polícia britânica, Ian Blair, apesar da morte do brasileiro Jean Menezes, não pretende demitir-se do importante cargo que ocupa. Na minha modesta opinião, Ian Blair faz bem em não se demitir. Afinal, dadas as circunstâncias da morte do infeliz brasileiro, não se pode concluir que essa mesma morte esteja ligada à incompetência da polícia britânica. É certo afirmar-se que Menezes, que não era terrorista nem criminoso de outra qualquer espécie, foi baleado pela polícia. No entanto, é, de igual modo, certo afirmar-se que a morte de Menezes não se deveu a meros caprichos dos agentes da autoridade. Segundo consta, Menezes, quando foi mandado parar pelos agentes, desatou numa correria vertiginal, que acabaria, como se sabe, com a sua triste morte. Infelizmente, foi mais ou menos isso que aconteceu. É possível que a Scotland Yard tenha confundido o brasileiro Menezes com um «bombista-terrorista», como é afirmado na mesma notícia do Público. Porém, é sempre bom realçar o facto de não ser prática da polícia britânica alvejar possíveis suspeitos de crimes premeditados, até porque, neste momento, alguns dos principais suspeitos dos atentados de Londres encontram-se presos.

A novela que se tem feito à volta de trágica morte deste jovem brasileiro levanta algumas questões que, de tão óbvias, não precisam de ser respondidas. A primeira questão é a de se saber por que razão os meios de comunicação fazem questão de colocar ênfase na hipotética culpa de Sir Ian Blair, quando se sabe que morreram cinquenta e seis pessoas num funesto atentado bombista. A segunda questão está relacionada com a primeira e resume-se ao seguinte: sabendo-se que morreram mais de cinquenta pessoas num atentado bombista, não seria perigoso não alvejar um homem que foge à autoridade e que, possivelmente, poderia ter consigo uma bomba? Uma outra questão poderia advir da simpatia que a imprensa em geral dedica a todos aqueles suspeitos de crimes terroristas que vão sendo apanhados pela «lei», como se fossem todos vítimas deste sistema capitalista diabólico ocidental que mata aos milhões. Várias outras simples questões poderiam colocar-se, debalde.

[Paulo Ferreira]