Relógios
Cada dia, o teu ser rouba-me um pouco da alma, cada vez mais diluída nos teus refreados desejos.
Por cada vez que preenches o imaginário de mais um homem, há uma ínfima parte de mim que sufoca uma criança em pranto, como se mais ninguém tivesse direito a um desejo egoísta.
A cada manhã em que te deixas deslizar para dentro dos teus melhores sapatos, a caminho de um encontro vulgaríssimo, algures um homem deixa-se ficar na cama – decidindo se é hora de partir.
Por cada momento inconsciente teu, um ponteiro de relógio dá uma volta em sentido contrário.
[João Silva]
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