quarta-feira, setembro 07, 2005

Matchstick Men



Ridley Scott não é, certamente, um dos meus realizadores de eleição. Talvez pela sua escolha de temas. Talvez pela sua tentativa, habitual, de fomentar o over-acting em muitas cenas. Mas, certamente, pelo resultado dos seus filmes (que julgo não ser acidental). Nem sempre, no entanto, falha, pois certos géneros vivem da intensidade gratuita de algumas cenas. Tenho nos meus favoritos, dentro de cada género, as suas incursões na ficção científica (Alien, 1979, e não Blade Runner) e nos filmes de guerra (Black Hawk Down, 2001, mesmo que longe do ideal). Mas nunca o tive em grande conta. No entanto, em 2003, Ridley Scott sai-se com uma pequena pérola, despretensiosa, simples, pouco ampla, mas bem construída, com personagens delineadas sem dramas épicos (contraste-se com o gladiador de Russell Crowe) e com interpretações de actores que sabem o que querem. O filme? Matchstick Men.

Matchstick Men é subvalorizado. De forma rebuscada, faz lembrar Adaptation (2002, Jonze/Kaufman). De forma pessimista, Nicolas Cage ainda traz os «tiques» de Adaptation. Aqui é Roy Waller, um «ás da burla» que, juntamente com Frank Mercer (o excêntrico Sam Rockwell), ocupa os seus dias vigarizando os incautos com complexos esquemas de vendas. Tudo corre sem perigo até à chegada de Angela (Alison Lohman, Alison Lohman...), que afirma ser filha de uma antiga e quase esquecida relação de Roy. É então que a vida de Roy vai mudar completamente, encontrando uma faceta mais humana, «normal», debaixo das camadas de obsessões e tiques que atormentam a sua vida e o seu historial psiquiátrico. Não há, no filme, exames de consciência pessoal nem lições de moral, apenas uma caminhada em direcção a um final inesperado. «Lie cheat steal rinse repeat», assim é o slogan publicitário de Matchstick Men. E, na verdade, Ridley Scott bem o pode repetir pois, desta vez, acertou em cheio.

[João Silva]